Teologia
da Missão Integral uma Nova Metodologia Evangelística
Luis
Artur Candido*
Quando falamos desta
nova perspectiva teológica a chamada TMI[1]temos
que olhar para a história da igreja, porque a TMI é um anseio por reforma em
algo que ficou engessado e que não consegue atender ao contexto da vida moderna
em seus vários desdobramentos.
Olhamos de forma rápida
sem muita análise teórica, o momento em que Jesus iniciou seu ministério e
neste aspecto vamos centrar nossa análise em sua interpretação do Antigo
Testamento, onde Ele passa fazer a correta interpretação do Antigo Testamento.
Para que o texto pudesse atender aos anseios do homem do século I ele teve que
fazer essa releitura e trazer o A.T para aquele realidade e forma viva, onde o
texto acha aplicabilidade para o homem do século I.
Quando avançamos um
pouco mais para o século IV onde nasce o que conhecemos como Igreja Católica
Apostólica Romana, onde o Texto foi engessado novamente e ganhou uma camisa de
força chamada tradição em que por 1000 anos dominou todo pensar e prática
teológica do período medieval, o que já estava sufocando toda uma geração, eis
surge, a partir do XIII um movimento reformista que denominamos renascença, com
ímpeto libertário dos senhores da sua época, e aqui me refiro aos senhores
feudais e a própria Igreja Católica.
Quem buscava uma vida
mais centrada na existência, a religião tinha que ser relevante, pois, para o
homem moderno que estava nascendo, neste ambiente libertário surge a Reforma
Protestante buscando contextualizar o Texto Sagrado para a realidade do homem
moderno para que o mesmo pudesse viver a fé de forma plena e relevante.
Mesmo a reforma, ficou focada
em seu dogmatismo e de certa forma não se atendo à realidade do homem moderno o
que causou uma reação de avivamento dentro do próprio movimento reformado, nos
séculos XVII e XVIII surgem os movimentos espiritualistas que buscavam uma
reforma dentro do movimento reformado, ou seja para esses grupos havia muito
dogma e pouca espiritualidade.
Daí surgiu o movimentoPietista
que buscava uma fé mais pessoal com práticas devocional mais centrada na
espiritualidade.
Já a partir dos séculos
das luzes e aí estamos falando do século XVIII com o surgimento do Iluminismo,
Racionalismo e a mola propulsora para essas duas linhas filosóficas que foi o
Humanismo do século XIV, a fé passou a ser questionada e tratada como obsoleta
para o homem que tinha alcançado sua maioridade racional, o que fazer diante
deste desafio imposto por essas linhas filosóficas.
A reação para colocar a
fé cristã dentro da realidade do homem moderno foi fazer uma reinterpretação da
fé cristã com os pressupostos filosóficos do período, e aí criou-se a Teologia
Liberal que buscou tirar a fé cristã do seu sarcófago para atender ao homem
moderno que surge como dono de si mesmo.
Estamos no século XIX
onde surge esta nova metodologia evangelística para alcançar ao homem racional,
e para isso houve um esvaziamento do Texto Sagrado onde tudo passou a ser
questionado, os milagres não existiram, alguns autores não escreveram seus
textos etc...
Diante deste vazio que se
criou então o Evangelho Social que é fruto desta dissecação do Texto Sagrado
que surgia partir do século XIX.
Prevalece entre muitos líderes
religiosos, que professam ser cristãos evangélicos (ou seja, cristãos crentes
na Bíblia), a promoção de um evangelho mais aceitável, que possa até mesmo ser
admirado pelas pessoas do mundo inteiro. Hoje em dia, a forma mais popular
desse tipo de evangelho é conhecida como “evangelho social”.
Embora
esse evangelho social seja comum entre os muitos novos
movimentos evangélicos, ele não é novidade para a cristandade. Seu princípio
moderno deu-se nos idos de 1800, quando pretendeu-se tratar das várias
condições da sociedade que seriam causadoras do sofrimento da população. A
crença era de que o Cristianismo atrairia seguidores quando demonstrasse o seu
amor pela humanidade. Isso poderia ser mais bem realizado aliviando os
sofrimentos causados pela pobreza, pelas enfermidades, pelas condições opressoras
de trabalho, pelas injustiças sociais, pelos abusos dos direitos civis, etc[2].
A partir daí entendeu-se que o
evangelho tinha que estar mais engajado nas questões políticas, econômicas e sociais,
é a ideia de uma praticidade maior da fé cristã na realidade da vida dos
indivíduos.
Desta perspectiva reformista surge
então a teologia da Libertação como uma nova proposta metodológica de
evangelização e atuação no meio da sociedade pós moderna para levar o evangelho
todo para o homem todo. Este movimento teológico que surge entre os anos de
1950 e 1960, procurou atuar na América
como uma proposta teológica para a América Latina.
Com a mesma perspectiva reformista
buscando uma metodologia de evangelização melhor para atuar no seio da
sociedade, é realizado O Congresso
Internacional de Evangelização Mundial, esse congresso foi realizado nos
dias 16 a 25 de julho de 1974 na cidade de Lausanne, Suíça e a proposta era
trazer para a realidade da igreja a responsabilidade que igreja tinha não só
com a pregação, mas, também e/ou principalmente a atuação da igreja em sua
responsabilidade social.
Diante deste breve quadro histórico é claro que sendo
um quadro simplista e objetivo para chegarmos na TMI, pois ela foi gestada à
partir destes movimentos reformistas buscando sempre uma nova metodologia
evangelística.
Como movimento teológico, é um movimento novo e
podemos datá-lo a partir de um evento que foi realizado em Cochabamba (Bolivia)
pela Fraternidade Teológica Latino-americana.
Vinte e cinco líderes, pastores, missionários e professores
de seminário de nove denominações se reuniram um ano depois em Cochabamba
organizando a FTL – Fraternidade Teológica Latino-americana. Samuel Escobar,
Pedro Savage, Emilio AntonioNuñez, Ricardo Sturtz e René Padilla formaram a sua
primeira liderança. Desde então, foram mais quatro Congressos de Evangelização
(CLADEs – 1979, 1992, 2000 e 2012) organizados pela FTL que demarcaram um campo
teológico protestante latino-americano envolvendo igrejas, lideranças,
publicações, eventos e movimentos nacionais, tendo como marco a integralidade
da missão da igreja[3].
É
partir deste evento surge então essa nova proposta teológica, cujo o intento é
estruturar uma nova metodologia de evangelização para o mundo pós moderno[4]
De forma
simplista e direta TMI, tem como proposta fazer uma releitura do Texto Sagrado
e colocá-lo de forma relevante dentro da sociedade pós moderna. Pode-se dizer
que é uma teologia de engajamento em questões sociopolítico para o homem
contemporâneo. É tornar a mensagem Cristã não algo utópico, mas uma mensagem
com tal praticidade que alcance o homem todo, que era o espírito de Lausanne.
É a
igreja realizando sua missão, mas não no sentido de proselitismo, mas também
com uma proposta de ação social dentro da sociedade humana.
Dentro
desta perspectiva não há ruptura entre mensagem e ação, mas sim uma ação da
fala e da prática.
Missão
integral é muita mais que manter instituições. É sim fazer desta ação a própria
vivência da igreja.
Teologia da Missão Integral recupera a noção do Reino de
Deus como um sistema que engloba tudo o que afeta o homem e tudo o que o homem
afeta. Engloba, portanto as questões sociais, política, econômica, ética, a
moral, educacional, do trabalho, do direito, porque tudo isso afeta o homem e é
afetado pelo homem, por isso é um sistema só, e esse sistema precisa ter um
novo princípio vetor que segundo as Escrituras: É o Reino de Deus. Assim, o
Reino de Deus é um novo sistema onde só a vontade de Deus é feita, e é um
sistema econômico, político, social, moral, ético, educacional, está tudo
contido no Reino de Deus[5].
Partindo
desta definição, Missão Integral não é assistencialismo ou ação social, mas é a
penetração do Reino de Deus dentro da sociedade como um todo de tal forma que
essa penetração causará uma mudança radical não na perspectiva individual mas na
coletividade no seio da humanidade.
Essa
releitura da ideia de Reino de Deus traz uma realidade para dentro da igreja
que a faz refletir sua atuação na sociedade e rever sua atuação e partir para
uma ação mais efetiva para que tal projeto aconteça dentro da coletividade
humana, que é a proposta missiológica da igreja, dentro desta percepção
integral.
E o pastor Steuermagel ainda afirma que a Missão
Integral “é um convite para baixo e não para cima, para a periferia e não
para o shopping center[6]“
A
proposta da TMI é estar na esteira da sociedade levando para o homem coletivo a
salvação para o homem todo a partir não só de pregação, mas ação efetiva dentro
desta coletividade, não é só a ideia de pregação, mas de ação efetiva a solução
da pobreza coletiva, se a igreja não atuar desta forma global ele falha em sua
proposta evangelística, pois o homem deve ser salvo no seu todo e não em
partes, para tanto a igreja não pode estar presa ao dogmatismo eclesiológico
que vislumbra a questão transcendental da salvação.
A TMI
não está presa a transcendentalidade, mas ela tem uma perspectiva horizontal.
...pastor
Valdir Steuermagel...Ele diz que a TMI
assusta as igrejas evangélicas porque elas não estão acostumadas com o sistema
de “horizontalidade“, que significaria, nada menos,
que a abolição do sistema hierárquico da igreja ou, como ele mesmo diz,
o “sistema clerical[7]“
Sem
entrar aqui no mérito marxista da frase, a proposta é olhar para o coletivo que
está empobrecido e a partir daí voltar para essa realidade vivencial e atuar de
forma efetiva para equiparar ou igualar a sociedade como um todo (isso tem cheiro de marxismo puro), aqui
a estrutura clerical como conhecemos hoje não tem sua funcionalidade de
atuação.
Portanto
a TMI é mais uma nova perspectiva hermenêutica que se propõem em fazer uma
releitura para fazer o Texto Sagrado ter relevância para o homem deste século e
torná-la relevante para lidar não só com questões soteriológicas, mas
principalmente sociopolítica, onde Igreja possa atuar de forma efetiva na busca
de soluções para os problemas reais que surgem dentro da sociedade moderna.
Neste
artigo procurei mostrar de forma sucinta o surgimento deste movimento teológico
que na realidade é um movimento novo, mas que nos últimos anos tem ganhado
força no Brasil, nestes últimos vinte anos de história do movimento.
Me
limitei somente mostrar uma breve história da TMI bem como o seu propósito como
metodologia de evangelização, não faremos uma crítica sobre o dito movimento,
embora não concordando com essa abordagem teológica, pois não é a finalidade do
artigo.
Mas o
espaço para aprofundamento e crítica do assunto está em aberto, o fizemos foi
trazer nossa contribuição sobre o referido tema.
[1]
Estaremos usando esta sigla para Teologia da Missão Integral para facilitar
nosso desenvolvimento do texto
[2]O Vergonhos Evangelho
Social, https://discernimentocristao.wordpress.com/2015/08/07/o-vergonhoso-evangelho-social/,
[3]A
história da Missão Integral e o jeito de fazer teologia,http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-historia-da-missao-integral-e-o-jeito-de-fazer-teologia
[4]
Uso o termo pós moderno seguindo a percepção de ZigmuntBaunan.
[5]A Teologia da Missão
Integral e o Marxismo, http://ariovaldoramosblog.blogspot.com.br/2014/03/a-teologia-da-missao-integral-e-o.html
[6]
http://www.fabioblanco.com.br/arrogancia-e-a-hipocrisia-na-missao-integral/
[7]Ibid
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